Conto dos Irmãos Grimm

Era uma vez uma moça bonita e prendada, que queria muito se casar, mas que não encontrava ninguém que quisesse se casar com ela, embora ela merecesse muito encontrar um bom partido para ser seu companheiro. Ela ia sempre às missas das almas e rezava o seu rosário a elas de madrugada.

Perto da sua casa morava um homem muito rico e solteiro, dono de uma loja de armarinho, que sempre dizia que somente se casaria com a melhor fiandeira da cidade.

Assim que ficou sabendo da notícia ela começou a ir à loja do rico todos os dias para comprar linho e sempre dizia que conseguia fiar todo o linho em um dia só. O homem ficava pasmado de ver uma moça tão trabalhadora.

Um dia, pela manhã, ela foi à loja para comprar mais linho e o homem rico lhe disse:

– Se consegue mesmo fiar todo esse linho em um dia, pode levar de graça, à noite irei à sua casa para ver o seu trabalho.

Ela voltou para casa muito aflita porque sabia que era muito difícil fiar todo o linho em um dia, conseguiria no máximo fiar a metade. Ela pôs o linho nas rocas e começou a chorar muito por causa da enrascada em que havia se metido.

De repente ouviu uma voz:

– Porque chora, minha filha?

Ela levantou a cabeça e viu uma senhora muito velha, corcunda, vestida de branco e muito pálida. Ela nunca tinha visto essa mulher antes, mas contou a ela o que estava acontecendo.

A mulher então disse:

– Vá rezar o seu rosário que eu vou ajudá-la! Se você conseguir se casar com ele, não se esqueça de me convidar para visitá-la e me receba bem em sua casa.

A moça prometeu que a convidaria e fez o que ela mandou.  Ao terminar o rosário voltou à sala para falar com a mulher, mas ela havia desaparecido e o linho estava todo fiado.

À noite o homem rico veio visitá-la e ficou assombrado e encantado com seu trabalho de tão perfeito que estava. Ele disse:

– Amanhã te mandarei mais linho e à noite voltarei para ver o resultado!

No dia seguinte, bem cedo entregaram em sua casa o dobro da quantidade de linho do dia anterior e novamente ela começou a chorar, porque não sabia como conseguiria terminar aquele trabalho.

Então, uma outra velha, tão velha como a primeira, também corcunda e pálida, vestida de branco apareceu e perguntou o que estava acontecendo.

A moça contou toda a sua história e a segunda mulher falou:

– Vá rezar o seu rosário que eu te ajudo, se conseguir se casar não se esqueça de me convidar para visitá-la e me receba bem em sua casa!

A moça foi rezar e ao terminar aconteceu exatamente como a primeira, o linho estava fiado perfeitamente e a mulher havia desaparecido.

À noite o homem rico voltou à sua casa e novamente ficou espantado com o lindo trabalho que ela havia feito e lhe disse:

– Amanhã lhe mandarei mais linho e à noite voltarei para ver o seu trabalho!

No dia seguinte os empregados do armarinho lhe trouxeram uma quantidade muito grande de linho, nem em um mês ela fiaria tudo aquilo. Novamente ela se pôs a chorar por ter mentido ao homem rico.

Então, apareceu uma terceira mulher, tão velha como as outras duas, corcunda e pálida, vestida de branco e disse:

– Vá rezar o seu rosário que eu vou te ajudar, só não se esqueça de me convidar para visitá-la depois que conseguir se casar com o homem rico.

Ao terminar a reza ela voltou para a sala das rocas e estava tudo pronto, feito com a melhor qualidade.

À noite, após verificar o lindo trabalho que ela havia feito, o homem rico a pediu em casamento, como presente ele enviou a ela, no dia seguinte, a melhor roca, fusos, dobraduras, apetrechos e o melhor linho que tinha em sua loja.

A moça, porém, ficou desesperada com o seu futuro, quando estivesse casada não poderia esconder o seu segredo por mais tempo.

O casamento aconteceu e ela quis convidar as três senhoras para visitá-la, mas não sabia como, não as conhecia nem sabia onde moravam.

Mas, no dia seguinte, como se tivessem ouvido seus pensamentos, as três apareceram em sua porta. A moça as recebeu muitíssimo bem e preparou a elas as melhores comidas em sua casa.

À noite, quando voltou para casa o homem encontrou as quatro conversando na cozinha e ficou impressionado com a aparência delas, por serem muito velhas e corcundas e lhes falou:

– As senhoras têm algum problema de saúde, porque são tão corcundas assim, com olhos esbugalhados e pele tão pálida?

Apesar das ofensas as mulheres não se abalaram e responderam:

– Fiamos a vida inteira e ficamos assim, corcundas por causa da posição, com olhos esbugalhados de forçar a vista na roca, pele pálida por trabalhar só dentro de casa e velhas de tanto esforço!

O homem ficou incomodado com aquilo, não queria ver sua esposa ficando daquela maneira. No dia seguinte ele mandou levar da casa todas as rocas, fusos e dobraduras e disse a mulher:

– Nunca mais quero que você trabalhe em uma roca, quero você sempre bonita e saudável.

Desde então, ela viveu muito feliz e agradecida às alminhas que a ajudaram.

Conselho de vó: Rezar sempre ajuda nas enrascadas que a gente se mete.

***

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Veja aqui a história A assembleia dos ratos

Maria Cecilia

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