Cinderela

Conto dos Irmãos Grimm

Era uma vez um homem muito rico, mas sua esposa estava muito doente. Ela, quando sentiu que o fim estava próximo, chamou sua única filha chamada Cinderela e lhe disse com muito amor:

– Amada filha, continue sempre boa, o amor de Deus há de lhe acompanhar sempre. Lá do céu velarei por você.

Dito isso, ela fechou os olhos e morreu.

A menina ia todos os dias ao túmulo da mãe para chorar e regar a terra com suas lágrimas. Quando o inverno chegou, a neve fria e gelada da Europa cobriu o túmulo com um manto branco de neve.

Cinderela continuou sendo boa e piedosa.

Quando o sol da primavera chegou, seu pai se casou novamente com uma mulher ambiciosa e cruel que já tinha duas filhas parecidas com ela em tudo.

Mal cruzou com suas filhas a pobre órfã percebeu que nada de bom podia esperar delas.

Pouco tempo depois seu pai também faleceu.

Mal tinha enterrado o seu pai, as duas filhas falaram:

– O que está moleca faz aqui? Vá para a cozinha, lá é teu lugar!!!

A madrasta ainda acrescentou:

– Têm razão, filhas. Ela será nossa empregada e terá que ganhar o pão com o seu trabalho diário.

Tiraram dela os seus lindos vestidos, deram-lhe um vestido muito velho e tamancos de madeira para calçar.

– Agora, já para a cozinha!!! – disseram elas, rindo.

A partir desse dia, a menina passou a trabalhar arduamente, desde que o sol nascia até altas horas da noite. Ela tinha que buscar água no poço, acender a lareira, cozinhar, lavar roupa, costurar, esfregar o chão…

À noite, extenuada do trabalho, ela não tinha uma cama para descansar. Ela se deitava perto da lareira, junto às cinzas (borralho) e ficava toda suja, por isso lhe deram o apelido de Gata Borralheira.

Os dias se passavam e sua sorte não melhorava, pelo contrário, a madrasta exigia cada vez mais.

A Gata Borralheira continuava visitando o túmulo da mãe todos os dias e chorava a sua ausência.

Um dia sobre a lápide da mãe pousou uma pombinha branca que lhe disse:

– Fique tranquila, sua vida vai mudar, seus sonhos irão se realizar.

Um dia, o rei anunciou a todo o reino que ia dar uma festa durante três dias e estavam convidadas todas as jovens que queriam se casar, a fim de que o príncipe herdeiro pudesse escolher a sua futura esposa.

Imediatamente, as duas filhas da madrasta chamaram a Gata Borralheira e disseram:

– Você vai nos pentear e nos vestir para o baile onde o príncipe vai escolher a sua futura esposa.

A Gata Borralheira obedeceu humildemente, mas quando as viu luxuosamente vestidas desatou a chorar e suplicou à madrasta que pudesse ir ao baile também.

– Ao baile, você??? Já se olhou no espelho??? – disse a madrasta.

Porém, devido à insistência da menina a madrasta falou:

– Está bem! Se separares as lentilhas em duas horas, poderá ir conosco.

A menina saiu para o jardim para chorar porque sabia que seria impossível cumprir tal tarefa. E então se lembrou da pombinha branca e falou:

– Dócil pombinha, rolinhas e todos os passarinhos do céu, venham me ajudar a separar as lentilhas, as boas no prato e as ruins no papo.

Em seguida a pombinha branca e uma grande variedade de passarinhos apareceram e a ajudaram no trabalho, rapidamente separaram tudo.

Entusiasmada, a menina foi mostrar à madrasta que havia cumprido as suas ordens.

– Muito bem – disse a madrasta – Mas que vestido irá usar? Você sabe dançar? Será melhor que fique em casa.

Desconsolada, Gata Borralheira começou a chorar, ajoelhou-se aos pés da madrasta e voltou a suplicar que a deixasse ir ao baile.

– Está bem – disse a madrasta com cinismo – te dou outra oportunidade.

Ela então espalhou todas as lentilhas sobre as cinzas da lareira.

– Se conseguir separar em uma hora poderá ir ao baile – disse a madrasta.

A doce menina saiu correndo para o jardim e gritou:

– Dócil pombinha, rolinhas e todos os passarinhos do céu, venham me ajudar.

Apareceram de novo a pombinha e diversos passarinhos e rapidamente toda a lentilha estava separada das cinzas.

A menina correu para mostrar à madrasta que tinha conseguido, mas de nada adiantou.

– Me deixe em paz menina! Vai ficar em casa e pronto! – disse a madrasta

Então ela chamou as filhas e foram para o baile.

A Gata Borralheira foi ao túmulo da mãe e pediu a sua ajuda.

A pombinha branca apareceu e estendendo as asas transformou as roupas surradas de Cinderela em um lindíssimo vestido de baile, os seus tamancos de madeira em um luxuoso sapato bordado de ouro e prata.

Quando ela entrou no salão de baile, todos ficaram surpreendidos com a sua beleza. As que mais se surpreenderam foram as filhas da madrasta, pois estavam convencidas que seriam as mais belas do baile. Porém, ninguém a reconheceu, pois ela estava muito bem arrumada.

O príncipe, ao vê-la, ficou fascinado, a tomou pela mão e dançou com ela a noite toda. Na hora de ir embora o príncipe se ofereceu para acompanhá-la, pois queria saber onde ela morava. Mas Cinderela deu uma desculpa para se retirar e saiu correndo. Perto dali a pombinha estava esperando e transformou suas roupas e seus sapatos novamente. A Gata Borralheira voltou para casa e dormiu ao lado da lareira como sempre fazia.

No dia seguinte, quando se aproximou a hora do início do segundo dia do baile ela esperou que todos saíssem e correu para o túmulo da mãe para encontrar a pombinha branca.

A pombinha apareceu e transformou suas roupas e sapatos, como na noite anterior e ela foi para o baile.

O príncipe, que a esperava ansiosamente, sentiu-se ainda mais deslumbrado pela sua beleza e novamente eles dançaram a noite toda.

Na hora de ir embora ele insistiu para acompanhá-la, mas ela falou que preferia voltar sozinha. O príncipe a seguiu, mas ao perceber que ele a estava seguindo, ela se escondeu atrás de uma frondosa oliveira. O príncipe continuou a procurá-la, mas não encontrando retornou decepcionado ao palácio.

Quando a madrasta e suas filhas voltaram ela já estava dormindo aos pés da lareira como sempre fazia.

No terceiro e último dia da festa, quando a carruagem com a madrasta e as filhas saiu, a menina foi novamente ao túmulo da mãe e chamou pela pombinha que, de novo, transformou suas roupas em um lindo vestido de seda e seu tamanco em um lindo sapato bordado de ouro e prata e depois colocou sobre seus ombros uma linda capa dourada.

Assim que entrou no salão de baile todos a admiraram, o príncipe apressou-se a lhe beijar a mão e, como nas noites anteriores, eles dançaram a noite toda.

Pouco antes da meia-noite, a jovem despediu-se do príncipe e foi embora apressada, pois sabia que ele a seguiria. O príncipe percebendo a sua ausência foi procurá-la, mas somente encontrou um dos seus sapatos dourados na escadaria, onde ela o havia perdido por estar fugindo dele.

O príncipe pegou o sapato e o segurou contra o coração.

Na manhã seguinte ele enviou seus mensageiros por todo o reino para informar que se casaria com a mulher que conseguisse calçar o precioso sapato.

Depois de todas as princesas, duquesas e condessas terem inutilmente experimentado o sapato, ele ordenou aos seus emissários que o sapato fosse provado por todas as jovens, não importasse sua condição social ou financeira.

Quando chegaram à casa onde vivia a Gata Borralheira, a irmã mais velha insistiu que devia ser a primeira a experimentar. Acompanhada da mãe que já a imaginava rainha, subiu ao quarto, convencida que serviria.

Mas os seus pés eram muito grandes. A mãe, furiosa a obrigou calçar à força, dizendo:

– Embora te aperte agora, não te preocupes, pensa que logo será a rainha.

A jovem disfarçou a dor que sentia e subiu na carruagem, apresentando-se ao filho do rei.

Embora ele tivesse notado de imediato que aquela não era a moça que ele conheceu no baile, eles foram dar um passeio.

Ao passarem pelo jardim a pomba branca estava em uma árvore e falou para ele:

– Olhe o pé da donzela e verás que o sapato não é dela.

O príncipe tirou-lhe o sapato e viu que o pé da moça estava roxo e inchado e percebeu que tinha sido enganado. Voltou para a casa e concordou que a irmã experimentasse o sapato.

A irmã mais nova subiu ao quarto, acompanhada da mãe e tentou calçar o sapato, mas seu pé também era muito grande. A mãe a obrigou a calçar dizendo:

– Embora te aperte agora, não se preocupe, pensa que logo será rainha.

A filha obedeceu e dissimulando a dor se apresentou ao príncipe. Apesar de perceber que aquela também não era a sua amada ele a convidou para andar de charrete.

Ao passarem pelo jardim a pomba branca estava em uma árvore e falou para ele:

– Olhe o pé da donzela e verás que o sapato não é dela.

O príncipe tirou o sapato e viu que novamente tinha sido enganado e voltaram para a casa.

– Trago aqui mais uma impostora – disse o príncipe – dê graças a Deus por eu não mandar castigá-las. Há mais alguma moça nesta casa para calçar o sapato?

– Não há, não tenho mais filhas – disse a madrasta.

Neste momento a Gata Borralheira se apresentou e disse que queria calçar o sapato. A madrasta e sua filha ficaram indignadas com a sua ousadia, mas o príncipe imediatamente a chamou para provar o sapato.

Ele sentiu naquela hora que ela era a moça que ele havia conhecido no baile apesar de suas roupas e do borralho em seu rosto. Quando calçou o sapato, ele serviu perfeitamente.

– A minha amada desconhecida – exclamou ele – quer se casar comigo?

– Sim! – falou Cinderela

 O príncipe, radiante de felicidade, colocou-a em sua charrete e saíram. Ao se aproximar da pombinha, ela disse:

– Continua príncipe, a dona do sapato foi encontrada!

A pomba pousou no ombro de Cinderela e ela se transformou naquela que ele tinha conhecido no baile.

Ao chegarem ao castelo o casamento foi imediatamente realizado.

Logo todos souberam o modo como ela era tratada pela madrasta e suas filhas e elas foram de tal maneira desprezadas que precisaram abandonar o país.

Cinderela continuou fiel à promessa que fez à sua mãe e continuou sendo bondosa e piedosa e como sempre fazia, continuou a visitar todos os dias o túmulo de sua amada mãe, mas agora com muita alegria.

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1 comentário em “Cinderela”

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