Fábula de Monteiro Lobato
Certa vez, de madrugada, um Lobo muito magro e faminto, já pele e ossos, se colocou a filosofar sobre as tristezas da vida.
Estava pensando, quando apareceu à sua frente o Cão, gordo, forte, de pelo lustroso.
Se não estivesse tão fraco e com tanta fome compraria uma briga com ele, mas pensou consigo mesmo que, na sua situação, sairia perdendo.
Então, se aproximou com cautela e falou ao cão:
– Nunca vi cão mais gordo, nem mais forte, se vê de longe que estás bem cuidado!
– Realmente, levo vida de Rei, sou muito bem tratado pelo meu senhor, se quiser te ensino a ter uma vida como a minha. – respondeu o Cão.
– Como? – perguntou o Lobo
– Basta que abandone a vida errante e seus hábitos selvagens e se torne civilizado como eu.
– Me explique bem explicado, como isso pode me ajudar? – falou o Lobo
– É simples, te apresento ao meu senhor, se ele sentir que pode confiar em você, ele te dará comida boa e farta e nunca mais passarás necessidades.
– Aceito, é essa a vida que quero!
– Em troca disso você deverá cuidar das coisas do senhor, vigiar a casa, proteger os animais.
– Fechado, aceito tudo isso.
Os dois foram então caminhando para a casa do senhor do Cão. De repente o Lobo reparou que o cão levava uma coleira em seu pescoço.
– Por que tem isso preso ao seu pescoço? – perguntou o Lobo.
– É minha coleira, serve para me prenderem durante o dia. – respondeu o Cão.
– Como assim? Não és livre para ir onde quer, quando quer?
– Nem sempre, geralmente o senhor me solta durante a noite, mas passo o dia preso, às vezes fico alguns dias preso, conforme a vontade do meu senhor.
– Quer saber?! Prefiro viver uma vida incerta, mas ser livre para fazer o que quero. Fique com sua vida farta como escravo e eu vivo as minhas incertezas sendo livre.
Conselho de vó: Nem sempre uma vida farta e segura é capaz de nos trazer felicidade. A liberdade é o nosso bem mais precioso.
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