Lenda indígena Tupi

No princípio não havia noite, somente dia o tempo todo. A noite estava adormecida no fundo das águas e tudo falava, mas não se distinguiam homens, animais e plantas, eram todos iguais.

A filha de Cobra Grande se casou com um homem e ele tinha três servos fiéis. O homem chamou os seus servos e disse:

– Minha mulher não quer dormir comigo porque diz que não é noite.

– Não há noite, somente dia – falou um deles.

Então a filha de Cobra Grande falou:

– Meu pai tem noite, se queres dormir comigo mande buscar a noite, lá no grande rio.

O homem pediu a seus servos que fossem à casa de Cobra Grande, no grande rio e trouxessem a noite.

Os servos foram e Cobra Grande lhes entregou um caroço de tucumã, muito bem fechado e disse:

– Não abram, somente na hora certa, minha filha saberá a hora de abrir. Se abrirem antes todos saberemos que não foram obedientes.

No caminho começaram a ouvir um barulho dentro do caroço de tucumã, era o barulho dos grilos e dos sapinhos que só cantam á noite, mas não sabiam o que era porque só conheciam o dia.

– Vamos ver que barulho é esse? – falou um deles.

– Não, lembre-se do que disse Cobra Grande – falou outro.

Eles continuaram o caminho, mas estavam muito intrigados com aqueles barulhos. Cheios de curiosidade abriram para ver e tudo escureceu.

Um dos servos falou:

– Estamos perdidos, agora todos já sabem que abrimos o caroço do tucumã.

A moça, em sua casa, disse então a seu marido:

— Eles soltaram a noite, vamos esperar pelo amanhecer.

Então, todas as coisas que estavam espalhadas pelo bosque se transformaram em animais e pássaros.

As coisas que estavam espalhadas pelo rio se transformaram em patos e em peixes.

A filha de Cobra Grande, quando viu a estrela-d’alva, disse a seu marido:

— A madrugada vem rompendo. Vou dividir o dia da noite.

E assim ela fez.

Desde então todos os pássaros começaram a cantar de madrugada para avisar o princípio do dia.

***

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Maria Cecilia

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