Histórias de vó

O Alfaiate de Gloucester

História de Beatrix Potter

Na época em que os homens usavam perucas e casacos com babados, vivia em Gloucester um alfaiate. Ele sentava-se em sua lojinha na rua Westgate e de pernas cruzadas costurava de manhã até o anoitecer. Embora costurasse seda fina para seus clientes, ele mesmo era muito pobre, usava um terno surrado e tinha os dedos tortos por causa do ofício.

Ele usava os retalhos dos tecidos, os pedaços que não serviriam para mais nada, para fazer casacos e coletes pequeninos e os dava de presente para seus amigos ratinhos que viviam na loja e só apareciam à noite, quando ele já tinha ido embora.

Certa vez, quando o inverno chegava, ele costurou doze peças e as colocou sobre a mesa para que os ratinhos as encontrassem à noite, pois, em todas as casas antigas de Gloucester há pequenas escadas de ratos e alçapões secretos, os pequeninos correm de casa em casa por aquelas passagens estreitas e compridas, eles podem até correr por toda a cidade sem sair às ruas.

Ali perto, o alfaiate vivia em uma casa muito pequena de um só cômodo com seu gato chamado Simpkin. O gato cuidava da casa sozinho enquanto o alfaiate trabalhava, ele também gostava dos ratos, mas de um jeito diferente, preferia-os no jantar.

Um dia, o Alfaiate chegou em sua casa cansado e sentou-se perto da lareira, sentiu que estava começando a adoecer. Começou a pensar no casaco que estava fazendo para o casamento do prefeito, que seria na manhã de Natal, ganharia muito dinheiro com a vestimenta.

De repente começou a ouvir barulhinhos vindos da cozinha, foi para lá, ficou quietinho ao lado da cristaleira olhando para descobrir de onde vinha o barulho. Então, viu uma xícara, que estava virada para baixo mexer levemente, ergueu a xícara e dali saiu uma ratinha que fez uma reverência ao alfaiate, depois pulou no chão e se escondeu dele.

O alfaiate voltou a sentar-se perto do fogo para se aquecer do inverno e estava pensando no casaco do prefeito quando ouviu mais barulhinhos.

Voltou para a cozinha e encontrou muitos outros ratinhos presos que, ao serem soltos, fizeram reverência e fugiram. O gato arranhou a porta da entrada pedindo para entrar, o alfaiate a abriu e Simpkin estava de muito mau humor porque ele odiava a neve e piorou quando descobriu que seu jantar havia fugido.

Durante a noite o alfaiate piorou muito em sua saúde e no dia seguinte não conseguiu trabalhar, ele teve muita febre e delirava falando do casaco que tinha que fazer para o casamento do prefeito. Ele já havia deixado o tecido cortado e faltava costurá-lo.

Por três dias ele não foi trabalhar e se aproximava a data do casamento.

Os ratinhos, vendo a situação do alfaiate se reuniram e resolveram ajudar. Eles passaram pelas passagens secretas que havia entre as casas e chegaram até a alfaiataria. Era véspera de Natal e nem o alfaiate, nem Simpkin teriam uma ceia devido a doença do pobre homem.

Na manhã de Natal, bem cedo, o gato saiu de casa para andar pelas ruas e, quando se aproximou da alfaiataria, viu que havia luzes lá dentro e foi a janela para ver o que estava acontecendo.

Ele arranhou a porta para tentar entrar, mas a chave estava em sua casa, com o alfaiate.

Lá dentro, dezenas de ratinhos trabalhavam incansavelmente para terminar o casaco do casamento do prefeito, ao mesmo tempo cantavam canções de Natal. Eles queriam agradecer ao alfaiate pelas roupinhas de frio que ele lhes fazia e também por terem sido libertados.

Simpkin voltou correndo para casa e para seu alívio encontrou o alfaiate bem e sem febre. Ele se levantou, se vestiu e saiu para a rua com o gato correndo à sua frente.

Quando entrou na loja, ela estava vazia, mas as tábuas estavam varridas e limpas, os tecidos estavam organizados e as linhas sobre a mesa, e, onde ele havia deixado os tecidos, estava pronto o casaco do casamento do prefeito. Com o dinheiro do casaco ele pode comprar muitas delícias e então fazer a sua ceia de Natal atrasada para comer junto com Simpkin. O gato se arrependeu das maldades que fazia com os ratinhos e não os caçou mais.

***

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Maria Cecilia

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