História irlandesa – autor desconhecido

Era uma vez dois velhos pastores. Eles tinham saído com seus carneiros e acabaram ficando muito cansados.

Resolveram dormir em um monte de relva fofa, perto de um rio. Um deles se deitou, fechou os olhos e logo pegou no sono. O outro ficou sentado, fumando seu cachimbo, pensando na vida. De repente, aconteceu uma coisa estranha. A boca do pastor adormecido se abriu e dela saiu uma borboleta branca. A borboleta percorreu o corpo do pastor adormecido e voou até o chão.

Havia uma pequena trilha que levava dali até o rio, e a borboleta voou até a beira da água. O homem que estava acordado se levantou e decidiu acompanhar borboleta. A trilha levava até uma fileira de pedras que atravessava o rio. Esvoaçando de uma pedra para outra, a borboleta chegou à outra margem. Pulando de uma pedra para outra, o homem foi atrás da borboleta.

Na outra margem, cresciam juncos altos. A borboleta se agitava e voava, entrando e saindo do meio dos juncos. O pastor ficou parado, observando admirado, com o cachimbo na boca. Então, por entre os juncos, no chão de relva, ele viu um crânio de cavalo. Era uma imensa caveira branca, corroída pelo tempo e ressecada pelo sol.

A borboleta foi até à caveira, esvoaçou sobre o osso branco e entrou por uma de suas órbitas. O pastor continuou ali, em pé, vendo a borboleta buscar e explorar cada parte do crânio. Depois de um tempo, a borboleta saiu e voltou pelo mesmo caminho até o homem que acordou:

– Acho que dormi demais – disse ele.

– Nem tanto – disse o amigo -, mas enquanto você dormia vi uma coisa maravilhosa.

– Pois quem viu uma coisa maravilhosa fui eu! Sonhei que fiz uma viagem imensa. Primeiro, caminhei por uma bela estrada, muito ampla e cheguei à beira do mar.

Atravessei o mar, indo de uma ilha a outra, até chegar a um país distante. Primeiro, atravessei uma floresta de árvores muito altas, que cresciam retas na direção do céu. Depois, avistei um palácio magnífico, de mármore branco e brilhante. Entrei pela porta e percorri todos os aposentos. Lá dentro não havia ninguém. Pensei em ficar ali para sempre, mas de repente tive uma sensação estranha. Eu sabia que tinha que voltar pelo mesmo caminho pelo qual tinha ido. Então saí do palácio, atravessei a floresta, o mar, percorri a longa estrada e cheguei em casa. Fechei a porta atrás de mim e estava pensando em fazer meu jantar quando acordei!

O amigo ficou em silêncio por um momento, fumando seu cachimbo, e então disse:

– Venha comigo. Vou lhe mostrar a viagem que você fez.

O homem que tinha dormido se levantou e o amigo lhe contou da estranha borboleta branca que saíra de sua boca.

– Esta pequena trilha – ele disse – é a estrada ampla, e o capim é a sebe alta. Este rio é o mar e as pedras que o atravessam são as ilhas. Aqueles juncos são as árvores da floresta e aquela caveira de cavalo é o palácio vazio, branco e brilhante, em que você entrou. De fato, você viu uma coisa maravilhosa. Mas qual de nós viu maravilha maior?

***

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Maria Cecilia

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