História de Ítalo Calvino

Era uma vez um rico comerciante que tinha um filho chamado Babu. O menino era esperto e tinha muita vontade de aprender.

O pai o deixou sob os cuidados de um professor muito sábio, para que lhe ensinasse todas as línguas.

Já adulto, depois de concluir os estudos, Babu voltou para casa. Certa tarde, ele passeava com o pai pelo jardim, quando ouviram, em uma árvore, muitos pássaros gritando, fazendo um barulho ensurdecedor.

— Esses passarinhos estouram meus tímpanos todas as tardes — disse o comerciante tapando os ouvidos.

— Quer que lhe explique o que estão dizendo? – falou Babu.

O pai olhou para ele admirado.

— Como pretende saber o que dizem os pássaros? Será que você é um adivinho?

— Não, mas o professor me ensinou a linguagem de todos os animais.

— Ah, estou vendo que apliquei mal o meu dinheiro! — disse o pai. — Eu queria que ele lhe ensinasse as línguas que falam os homens, não as dos animais!

— As línguas dos animais é mais difícil.

Neste momento o cão correu ao encontro deles latindo. E Babu falou:

— Quer que lhe explique o que ele está dizendo?

— Não! Pare de me aborrecer com sua linguagem dos animais! Quanto dinheiro desperdiçado!

Continuaram o caminho e passaram por um lago cheio de rãs:

— Só faltava agora as rãs — resmungava o pai.

— Pai, quer que lhe explique… — começou Babu.

— Vá para o diabo você e quem lhe ensinou!

E o pai, furioso por ter jogado dinheiro fora na educação do filho e com a ideia de que tal conhecimento da linguagem animal fosse uma espécie de enganação, chamou dois empregados e disse o que deveriam fazer no dia seguinte.

De manhã, Babu foi despertado, um dos empregados o fez subir na carruagem e se sentou ao seu lado, o outro, instalado no lugar do cocheiro e partiram a galope.

Babu não sabia nada daquela viagem, mas notou que o criado ao seu lado estava triste.

— Aonde vamos? — perguntou-lhe. — Por que está tão triste? — Mas o criado permanecia em silêncio.

Então os cavalos se puseram a relinchar, e Babu entendeu o que diziam:

— Triste esta viagem em que levaremos o pobre Babu para longe, o pai dele não teve nem a dignidade de expulsá-lo de casa pessoalmente.

E o outro respondia:

— Cruel foi a ordem de seu pai.

— Então, vocês receberam ordem de meu pai para me levarem para longe? — disse Babu aos criados.

Os criados estremeceram:

— Como é que soube? — perguntaram.

— Os cavalos me contaram — disse Babu. — Não se preocupem, podem me deixar aqui, não voltarei à casa do meu pai.

Babu abraçou os empregados e partiu para o desconhecido. À noite, chegou a uma casa e pediu pousada aos camponeses. Estavam jantando quando, do pátio, vieram os latidos do cão. Babu ficou escutando à janela, depois disse:

— Apressem-se, mandem as mulheres e os filhos para a cama, e vocês se armem até os dentes e fiquem alertas. À meia-noite, vai aparecer um bando de malandros para assaltá-los.

Os camponeses pensaram que ele tinha enlouquecido.

— Mas como é que sabe? Quem lhe disse?

— Soube pelo cão que latia para avisá-los. Pobre animal, se não fosse por mim, teria desperdiçado o fôlego. Se me ouvirem, estão salvos.

Os camponeses, com suas armas, ficaram de tocaia atrás de uma sebe. As mulheres e as crianças se fecharam em casa. À meia-noite, ouviu-se um assovio, depois outro e mais outro, em seguida, gente se movendo. Da sebe partiu uma descarga de chumbo. Os ladrões se lançaram em fuga, com as facas na mão.

Foram feitos muitos elogios a Babu, e os camponeses queriam que permanecesse ali, mas ele se despediu e continuou sua viagem.

Depois de muito andar, chegou a outra casa de camponeses. Estava em dúvida se batia ou não à porta, quando ouviu um coaxar de rãs no lago.

Babu bateu à porta. Convidaram-no para jantar. Falando com o camponês, ficou sabendo que ele tinha uma filha, sofrendo de uma doença havia seis anos, mas nenhum médico sabia qual era, e agora ela estava no fim da vida.

— É claro! — disse Babu. —Há seis anos, jogaram no poço uma pedra enfeitiçada para fazer a menina ficar doente, se tirarem a pedra no poço ela ficará curada.

Como você sabe disso:

– As rãs me falaram! – falou Babu

– Como assim? Isto é impossível!!!!

– Acredite em mim!

O pai da moça desceu no poço e encontrou a pedra, assim que a tirou, a jovem ficou curada.

Babu ainda ficou um tempo morando com eles, estavam agradecidos pela ajuda. Com o tempo Babu e a moça se apaixonaram, se casaram e viveram felizes para sempre.

***

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Maria Cecilia

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