História de Ítalo Calvino
Era uma vez uma mulher viúva que casou com um homem viúvo, cada um tinha uma filha. A mãe tratava bem à sua filha, mas à enteada não.
Ela mandava as duas buscarem água no rio, a sua filha com uma jarra e a enteada com uma cestinha. Mas a água da cestinha escorria e a madrasta brigava com ela todos os dias.
Certo dia, quando ia buscar água, a cesta lhe escapou das mãos torrente abaixo. Ela se pôs a correr à margem do rio, procurando a cestinha.
Depois de muito correr, encontrou uma velha sentada numa pedra no meio da torrente, e lhe disse:
– Viu minha cestinha?
– Venha até aqui — disse-lhe a velha —encontrei sua cestinha. Mas me faça um favor, vê se descobre o que me belisca aqui nas costas. O que tenho?
A moça olhou para as costas da mulher e viu muitas pulgas, mas para não magoar a velha falou:
– São pérolas e diamantes, deixe que eu tiro.
– E pérolas e diamantes terá — respondeu a velha.
Assim que ficou livre das pulgas a velha falou:
– Venha comigo!
A mulher a levou até à sua casa e lá chegando lhe disse:
– O que você vê na minha cama?
Era uma cama suja, cheia de entulhos, mas a menina respondeu enquanto arrumava tudo:
– Rosas e jasmins.
– Rosas e jasmins terá. Faça-me ainda outro favor, o que vê no chão?
A moça disse:
– Rubis e querubins.
– E rubis e querubins terá.
Depois abriu um armário com todo tipo de vestidos e lhe disse:
– Quer um vestido de seda ou um vestido de percal?
E a moça:
– Sou pobre, me dê um vestido de percal.
– E eu lhe darei um de seda.
Depois abriu um cofrinho e lhe disse:
– Quer ouro ou quer coral?
E a moça:
– Dê-me coral.
– E eu lhe dou ouro.
– Quer brincos de cristal ou brincos de diamantes?
— De cristal.
— E eu lhe dou de diamantes.
Então a mulher lhe deu um vestido de seda, um colar de ouro, um brinco de diamantes e encheu os seus bolsos de pérolas e pedras preciosas.
A moça voltou para casa e sua madrasta ficou de queixo caído quando viu a moça toda ornamentada com as mais belas roupas e joias. Ela lhe perguntou o que havia acontecido e a enteada respondeu:
– A correnteza do rio levou a minha cestinha e só fui encontrá-la perto da casa de uma velha que estava na beira do rio, foi ela que me deu todas essas coisas.
A madrasta, imediatamente, mandou sua filha para a casa da velha. Lá chegando ela viu a velha sentada. Assim que a velha lhe viu falou:
– Venha até aqui, moça. Ajude-me a procurar o que tenho nas costas que me belisca. O que tenho?
– Pulgas e sarna.
– E pulgas e sarna terá.
Levou-a para arrumar a cama.
– O que se encontra aí?
– Percevejos e piolhos.
– E percevejos e piolhos terá.
Fez com que varresse a casa:
– O que se vê?
– Uma sujeira que dá nojo!
– E uma sujeira que dá nojo terá.
Depois lhe perguntou se queria vestido de saco ou vestido de seda.
– Vestido de seda!
– E eu lhe dou um de saco. Colar de pérolas ou colar de barbante?
– Pérolas!
– E eu lhe dou barbante. Brincos de ouro ou brincos de latão?
– De ouro!
– E eu lhe dou de latão. Agora volte para casa.
Conselho de vó: A verdadeira bondade é aquela feita a pessoas que não podem retribuir, este é o verdadeiro tesouro.
***
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