Lenda indígena

Certo dia a Onça estava de muito mau humor, na verdade ela estava furiosa, quando encontrou, no brejo, um Sapo igapó.

– Bom dia, Dona Onça – disse o sapo.

A Onça estava disposta a abocanhar qualquer um que se atrevesse a passar pelo seu caminho, só não abocanhou o Sapo porque o achou muito asqueroso.

– Como ousa dirigir a palavra a mim, ser repugnante e desprezível? – rosnou ela.

– Meu amigo, tudo é questão de opinião. As sapinhas não me acham nada repugnante, e não conheço ninguém que me despreze.

– Pois eu o desprezo! – falou a Onça.

– Por favor, não banque a tola. Se me desprezasse, não estaria aí me ofendendo.

Diante disso, a onça ficou ainda mais furiosa.

– Desprezível, sim! Quem olha para você com respeito? Ninguém!

– Todos me respeitam. Meu grito, por exemplo, traz terror em toda a floresta – falou o Sapo.

A Onça deu uma gargalhada.

– Quer dizer que o seu rugido é o mais apavorante da floresta? Pois essa eu pago para ver!

Então a onça trepou numa pedra e lançou aos ares o seu urro mais sinistro e desafiador.

Instantaneamente aconteceu na floresta um alvoroço de animais fugindo por terra, céu e água.

Somente quando o último eco do seu grito se desfez no ar, a Onça desceu lentamente do seu pedestal de glória, feliz por ter mostrado a sua força.

Então foi a vez de o sapo demonstrar o poder da sua voz. Ele pulou na pedra.

– Muito bem, agora o urro do sapo! – falou a Onça rindo.

Somente quando tudo fez silêncio outra vez, o Sapo encheu bem o papo até torná-lo transparente e lançou o seu coaxar rouco de sapo.

Então, aconteceu uma espécie de reverberação total, como se alguém houvesse espalhado pela selva inteira milhares de caixas de som amplificadas ao máximo. Todos os sapos e seus parentes da floresta, tais como as jias, as rãs, as pererecas, os cururus e o restante da valorosa dinastia dos seres coaxantes, estavam juntos fazendo tanto barulho que as árvores tremiam desde as raízes até as folhas, até o solo chacoalhava.

Incapaz de suportar a zoeira terrificante, a onça levou as duas patas às orelhas, tentando suportar dignamente aquele coaxar colossal. Mas, quando viu que não podia mais suportar, tratou de dar no pé.

Conselho de vó: A união faz a força e na necessidade se prova a amizade.

***

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Maria Cecilia

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