A Rainha da Neve – parte 3

História de Hans Christian Andersen

O JARDIM DA  BRUXA

Com o desaparecimento de Kay, Gerda ficou muito entristecida, desesperada na verdade. Ninguém sabia onde ele poderia estar, os moleques da praça só sabiam que ele havia entrado em um grande trenó, fora dos limites da cidade.

Muitas pessoas diziam que ele havia morrido, que foi assassinado ou que havia caído no rio e se afogado. Foram dias tenebrosos para Gerda, sua avó e para os pais de Kay.

Passou o inverno e ainda não sabiam nada sobre o paradeiro do menino.

A primavera chegou e Gerda resolveu ir até o rio para ver se encontrava alguma pista de Kay, ela beijou a sua avó, colocou seus novos sapatos vermelhos e saiu.

– É verdade que você levou o meu amigo? Eu te darei os meus sapatos vermelhos se você o trouxer de volta para mim – falou Gerda para o rio.

Ela achou que as pequenas ondulações assentiram de um jeito curioso, então tirou os sapatos vermelhos e jogou ambos no rio.

Eles caíram próximos à margem e foram carregados diretamente de volta para ela pelas pequenas ondulações. Aparentemente, o rio não aceitara sua oferta, pois não havia levado o pequeno Kay.

De toda forma, a garotinha pensou que não os havia jogado longe o suficiente. Por isso, subiu num bote que estava na margem, caminhou até a ponta dele, de onde lançou os seus sapatos na água de novo.

Mas o bote estava solto, e os seus movimentos o impulsionaram, fazendo-o flutuar para longe da costa. A menina tentou sair, mas, antes que pudesse alcançar o outro lado do bote, ele já estava longe da margem, flutuando rapidamente para longe.

Gerda ficou assustada e começou a chorar.

O bote flutuou rapidamente com a correnteza. Ela ficou sentada, imóvel, apenas com suas meias nos pés, os seus sapatos vermelhos flutuavam logo atrás.

Ela pensou que talvez o rio a estivesse levando para encontrar seu amigo Kay.

Então, ela chegou a um grande jardim de cerejeiras. Havia uma pequena casa lá, com curiosas janelas azuis e vermelhas, um telhado de sapê e dois soldados de madeira em pé, do lado de fora. Ela estava mais próxima da margem.

Gerda pensou que os soldados eram gente de verdade e gritou, mas é claro que eles não responderam.

Gritou novamente, mais alto do que antes, então uma velha mulher saiu da casa. Ela se apoiava em um bastão de madeira e usava um grande chapéu de sol que estava coberto de belíssimas flores pintadas.

A mulher caminhou para dentro da água e pegou o bote com o seu bastão de madeira, puxando-o até a margem e tirou a menina de lá.

Gerda ficou feliz por estar em terra firme novamente, mas sentiu um pouco de medo da mulher, mas não sabia por quê.

– Venha, diga-me quem é você e como veio parar aqui – pediu a idosa.

Gerda lhe contou a história toda e perguntou se ela havia visto Kay. A mulher negou, mas disse que ele poderia chegar a qualquer momento. Falou também, que ela não deveria ficar triste, e sim comer das cerejas e ver suas flores, que eram mais bonitas do que as de qualquer livro de imagens.

Depois, a idosa conduziu a criança para dentro da casa e trancou a porta.

A mulher lhe deu comida e disse que ela poderia comer o quanto quisesse.

Gerda lhe contou tudo sobre Kay, sobre sua avó, sobre sua casa e até sobre as roseiras, nos vasos de sua casa.

Enquanto ela comia, a mulher penteou o seu cabelo com um pente dourado, para que seus fios cacheassem e brilhassem como ouro ao redor de seu lindo e pequeno rosto, tão doce quanto uma rosa.

– Esperei muito tempo por uma menininha como você! – disse a velha mulher.

Enquanto a mulher penteava o cabelo de Gerda, a menina começou a se esquecer de tudo sobre Kay, sobre sua casa, sobre sua avó.

A mulher era uma bruxa e colocou um feitiço na menina porque a queria com ela para sempre e, se ela se lembrasse de Kay e da sua busca pelo menino, iria logo embora.

Quando a menina adormeceu, a bruxa foi até o jardim e lançou um feitiço sobre as roseiras para que lá não tivesse nada que a fizesse se lembrar da sua vida antes de chegar ali.

Por muito tempo Gerda viveu naquele lugar, brincava todos os dias no jardim e com o passar do tempo conhecia todas as flores. Ela estava feliz, mas sentia que lhe faltava algo, embora não soubesse o quê.

Um dia, estava sentada e começou a prestar atenção no chapéu da velha, que tinha flores pintadas. A mais bela delas era uma rosa.

– Uma rosa! – falou a menina.

Então ela correu pelo jardim para ver se encontrava alguma. Ela não sabia por quê, mas não encontrar rosas no jardim a deixou extremamente triste e ela começou a chorar.

Suas lágrimas caíram no meio do canteiro de flores e no instante que tocaram o chão, as roseiras que a bruxa havia matado começaram a brotar.

Ao ver as rosas ela se lembrou de Kay, da avó e de tudo.

– Minha pobre avó, deve estar aflita por mim, assim como por Kay!

Então, ela puxou seu vestidinho para que pudesse correr mais rápido.

Gerda correu para o mundo afora de pés descalços. Olhou para trás por três vezes, porém ninguém a perseguia.

Por fim, quando não podia mais correr, sentou-se numa enorme pedra. Quando olhou ao redor, viu que estava no outono, quase no inverno. No jardim era sempre primavera, ela não tinha visto o tempo passar.

– Como desperdicei meu tempo! – lamentou.

Ela sentiu que não podia mais descansar, não podia mais perder tempo. Levantou-se e percebeu que seus pés estavam feridos. Tudo ao seu redor parecia gelado e melancólico.

(esta história tem sete capítulos, os demais serão publicados nos próximos dias)

***

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