História de Hans Christian Andersen
A PEQUENA LADRA
Depois de muito seguir, Gerda chegou em uma floresta escura, mas o brilho dourado da carruagem iluminava tudo e acabou chamando a atenção de um bando de ladrões que lá se escondiam.
– É ouro, é ouro! – eles gritaram.
Lançaram-se à frente da carruagem, tomaram o cavalo e a menina.
Eles foram levados até uma cabana no meio da floresta a uma velha que tinha um pouquinho de barba e sobrancelhas enormes que pendiam sobre os olhos.
– Essa menina é robusta e bela, quero-a para mim! – falou a velha.
A mulher levou Gerda para dentro da cabana.
Lá havia uma outra menina vestindo roupas esfarrapadas, estava suja e tinha aparência selvagem.
– Esta é minha filha – falou a velha.
– Ela irá brincar comigo, quero entrar na carruagem – anunciou a pequena ladra.
Gerda e os ladrões entraram na carruagem e se dirigiram cada vez mais para dentro da floresta. A pequena ladra era tão grande quanto Gerda, mas muito mais forte. Tinha ombros mais largos e seus olhos eram bastante pretos, com uma expressão quase melancólica.
Ela colocou seus braços ao redor da cintura de Gerda e disse:
– Eles não vão te fazer mal enquanto eu não ficar com raiva de você. Você deve mesmo ser uma Princesa!
– Não – falou Gerda.
Então Gerda contou que procurava por Kay.
A ladra olhou sinceramente para ela, balançou a cabeça e disse:
– Não te farão mal caso eu esteja com raiva de você, pois, se sentir raiva, eu mesma farei isso.
Elas foram até a casa de um dos ladrões, a velha casa era enorme e tinha as paredes rachadas, de cima a baixo.
Corvos e gralhas voavam para dentro e para fora de todos os buracos, e enormes buldogues, que pareciam prontos para devorar alguém, pulavam tão alto quanto podiam, mas não latiam, pois não era permitido.
Uma grande fogueira queimava à frente da casa, uma sopa fervia no caldeirão grande sobre o fogo, e lebres e coelhos tostavam em espetos.
– Você dormirá comigo e com todos os meus bichos hoje à noite – anunciou a ladra.
Depois de comerem e beberem, as duas foram para um canto da casa, repleto de palha e tapetes. Havia quase uma centena de pombos nos caibros e vigas que pareciam dormir, mas se mexeram um pouco quando as crianças entraram.
– São todos meus – disse a pequena ladra.
Ela agarrou um que estava próximo, segurou-o pelos pés, ele sacudiu e bateu as asas.
– Beije-o – falou a pequena ladra levando o pombo até o rosto de Gerda.
Gerda obedeceu e o beijou. A menina soltou o pombo em seguida.
– Aqui está minha velha e querida Bae – falou a pequena ladra segurando uma rena pelos chifres – Precisamos mantê-la por perto, senão ela foge. Toda noite lhe faço cócegas com minha faca, ela tem medo.
A garotinha puxou uma longa faca de um buraco na parede e passou pelo pescoço da rena. O pobre animal relinchou e chutou, a ladra riu e puxou Gerda consigo para a cama.
– A faca fica com você quando vai dormir? – perguntou Gerda assustada.
– Eu sempre durmo com uma faca. Você nunca sabe o que irá acontecer. Mas agora me conte de novo o que você me disse sobre esse pequeno Kay e por que você saiu pelo mundo.
Então Gerda contou tudo novamente, enquanto alguns pombos da floresta arrulhavam em seus ninhos e outros dormiam. A pequena ladra segurou o braço de Gerda e adormeceu com a faca na outra mão.
Gerda não conseguiu fechar os olhos, ela não sabia o que iria acontecer com ela.
Então um pombo desceu do caibro, parou ao seu lado e falou:
– Kurre, kurre, eu vi o pequeno Kay.
– Viu? Onde? – perguntou Gerda.
– Ele foi levado em um grande trenó pela Rainha da Neve. Eles flutuavam sobre a floresta, enquanto eu dormia em uma árvore.
– Aonde foi a Rainha da Neve? Você sabe algo sobre isso?
– Provavelmente ela foi para a Lapônia, sempre há gelo e neve por lá. Pergunte para a rena que está amarrada aí.
– Há gelo e neve e é um lugar esplêndido. A Rainha da Neve possui acampamentos de verão lá, mas seu castelo permanente é no Polo Norte, numa ilha chamada Spitzenbergen – confirmou a rena.
– Ó, Kay, pequeno Kay! – suspirou Gerda.
– Fique quieta, ou vou enfiar essa faca em você! – ameaçou a ladra, que tinha acordado com a conversa.
Pela manhã, Gerda contou tudo o que os pombos da floresta haviam dito, e a pequena ladra pareceu bastante assustada.
Porém, ela balançou a cabeça e disse à rena:
– Você sabe onde é a Lapônia? – perguntou.
– Quem saberia melhor do que eu? Nasci e cresci lá, e costumava pular pelos campos de neve. – disse o animal.
– Escute, todos os homens saíram, mas a minha mãe ficará aqui. Mais tarde, ela beberá um pouco daquela garrafa grande e depois irá cochilar. Aí eu farei algo por você.
A ladra pulou para fora da cama, correu para junto da mãe, puxou sua barba e disse:
– Bom dia, minha cabrinha barbuda!
Sua mãe apertou seu nariz até que ficou vermelho e azul, mas era tudo afeto.
Assim que a mãe bebeu da garrafa e caiu no sono, a pequena ladra foi para junto da rena e disse:
– Eu teria o maior prazer do mundo em mantê-la aqui para fazer cócegas com minha faca, é muito divertido. Porém, não importa. Vou desamarrar o nó do seu pescoço e lhe deixar sair para que corra até a Lapônia, mas você precisa dar o melhor de si e levar essa garotinha para o Palácio da Rainha da Neve por mim, onde seu colega está. Tenho certeza de que a ouviu falando, pois ela falou alto o bastante e você geralmente bisbilhota as conversas!
A rena pulou de alegria. A ladra ajudou Gerda a subir e teve a ideia de amarrá-la ao animal, até pôs um pequeno travesseiro para a menina sentar.
Gerda derramou lágrimas de alegria por sair dali e por estar indo procurar Kay.
– Não quero que choramingue! Deve se sentir bem! Aqui estão dois pedaços de pão e um presunto, assim você não ficará com fome – disse a pequena ladra.
As coisas foram amarradas no lombo da rena. A pequena ladra abriu a porta, prendeu os cachorros grandes, cortou o cabresto com sua faca e disse à rena:
– Agora corra, mas cuide da minha garotinha!
Gerda acenou as mãos e disse adeus, a rena correu através da grande floresta, sobre pântanos e chapadas, tão rápida quanto podia. Os lobos uivavam e as gralhas grasnavam, enquanto as luzes vermelhas tremeluziam no céu.
– Aí estão as luzes do Norte. Veja como brilham! – falou a rena.
E a rena prosseguiu mais rápida do que nunca, dia e noite. O pão foi comido, o presunto também, e então elas chegaram à Lapônia.
(esta história tem sete capítulos, os demais serão publicados nos próximos dias)
***
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