Histórias de vó

O caçador de focas e o Sereiano

Conto Celta de Elizabeth W. Grierson

Era uma vez um homem que vivia no litoral, no norte da Escócia. Seu trabalho era caçar focas para vender a pele. Ele vivia bem, pois as peles eram vendidas por um bom dinheiro e sempre havia compradores.

Ele ainda tinha a vantagem de viver em um lugar onde as focas costumavam se reunir para tomar sol na praia, dessa maneira era fácil pegá-las.

Nessa praia onde as focas se reuniam, sempre apareciam algumas que eram bem maiores que as outras. As pessoas da região diziam que não eram focas, e sim, sereianos que adotavam esse disfarce para poder subir à superfície sem que as pessoas se assustassem.

O caçador nunca acreditou nessas histórias e matava as grandes focas da mesma maneira que as outras, na verdade ele as preferia, porque podia vender mais caro.

Um dia, o homem ficou à espreita para atacar uma dessas grandes focas que estava sentada em uma pedra, à beira do mar.

Ele a atingiu com sua faca de caça, mas o golpe não foi tão certeiro quanto imaginava e a foca conseguiu pular no mar, levando a faca com ela.

O homem ficou chateado por não ter conseguido matá-la e, mais ainda, por ter perdido a sua melhor faca.

Irritado, ele foi embora para sua casa.

No dia seguinte, quando se encaminhava para a praia, foi surpreendido por um homem bem alto que vinha em um cavalo muito grande. Ele nunca havia visto uma pessoa assim antes e ficou impressionado, imaginando de onde teria vindo uma pessoa assim. O grande homem parou seu cavalo à frente do caçador e falou:

– Do que trabalha, homem?

– Sou caçador de focas – respondeu.

Então, ele disse que queria fazer uma encomenda muito grande de peles, porém, deveriam ser entregues no mesmo dia.

– Não consigo caçar tantas focas em um só dia, é impossível.

– Não se preocupe com isso, conheço um lugar onde tem tantas focas que você conseguirá, venha comigo, eu te levo até lá.

O caçador concordou e subiu na garupa do cavalo. Eles cavalgaram por um tempo e chegaram a um precipício à beira mar.

– Vamos, desça – falou o homem que havia feito a encomenda das peles de foca.

O caçador desceu e quando foi espiar para ver onde estariam as focas, se surpreendeu.

– Onde estão as focas que você falou?

– Logo você verá!

Nesse momento, o homem empurrou o caçador que caiu do precipício, direto para o fundo do mar.

Ele pensou que seria o seu fim, mas, para a sua surpresa, percebeu que conseguia respirar no fundo do mar da mesma maneira que fazia na superfície.

Viu então ao seu lado, o grande homem nadando junto com ele. O homem o agarrou e o levou para o mais profundo do oceano.

Depois de muito nadarem, chegaram a uma enorme porta em arco feita de coral rosa e cheia de conchas como ornamento.

A porta se abriu e ele se viu em um enorme salão cheio de focas, quando virou para o homem para perguntar o que era aquilo percebeu que, assim como o homem, ele também havia assumido a forma de foca.

O caçador começou a se desesperar, sem entender o que estava acontecendo. Então uma foca parou a sua frente e disse:

– Já viu esta faca? – mostrando a sua faca que havia perdido quando tentara matar a foca na praia.

Ele ficou horrorizado, entendeu que aquele era seu fim, era a vingança pelo que havia feito. Começou a chorar e pedir por misericórdia.

Mas, ao invés da atitude hostil que ele temia, as focas o rodearam e começaram a esfregar suas cabeças na cabeça dele em sinal de compaixão.

Então, uma delas falou:

– Não te faremos mal, somente queremos que nos faça um favor.

– Sim, claro, o que posso fazer?

– Venha comigo!

O caçador de focas o seguiu e, em uma sala ao lado, se deparou com uma grande foca, deitada e com uma grande ferida aberta no lado do corpo.

– Este é meu pai, que você feriu ontem, você deve curar a ferida dele.

– Mas como farei isso? – respondeu o caçador.

– Não sei como, mas só você pode fazer isto.

Então, o caçador se aproximou da grande foca e pegou algumas algas para tentar enfaixar a ferida, porém, quando o tocou, uma mágica aconteceu.

A ferida começou a se fechar até sumir. Em pouco tempo a grande foca estava curada.

Todos começaram a gritar e fazer festa pelo acontecido.

– Agora estás livre para voltar para casa, para tua esposa e filhos. Vou te levar à superfície, mas tenho uma condição.

– E qual é? – perguntou o caçador de focas.

– Que faças um juramento solene de nunca mais ferir uma foca.

– Farei isso de bom grado — respondeu.

O caçador então disse adeus a todos e foi levado pela foca para a superfície, assim que chegou à praia, ele voltou à forma humana.

O homem cumpriu sua promessa e nunca mais matou nenhuma foca.

***

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Maria Cecilia

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