História de Hans Christian Andersen
O palácio do imperador da China era uma das construções mais bonitas que existiam no mundo. Foi construído em mármore branco e possuía torres de marfim, as paredes eram revestidas com seda de cores variadas e os quartos decorados com ouro e prata.
O jardim também era inigualável, de enorme beleza, nele cresciam flores raras e belas. Havia inúmeros rios e lagos, onde nadavam peixes de todas as espécies e tamanhos.
Além do jardim, havia uma mata que chegava até o mar e nela vivia um rouxinol de canto único.
Suas melodias eram tão emocionantes que faziam chorar quem as escutasse.
Pessoas do mundo todo viajavam para admirar o palácio do imperador chinês e ficavam maravilhados diante de tanta beleza. Mas, quando ouviam o canto do rouxinol, imediatamente admitiam que aquilo, sim, era a coisa mais bonita e rara do grande império.
Todos os viajantes que ouviam aquele canto, voltavam para suas casas e contavam o quão magnífico era o prodigioso pássaro. Alguns até escreveram livros para divulgar a maravilhosa ave.
Um dia, um desses livros chegou às mãos do imperador. O soberano o leu e ficou, ao mesmo tempo, surpreso e enfurecido.
Mandou logo chamar o primeiro-ministro.
– Como é possível que haja nos jardins imperiais um rouxinol de canto incomparável e eu, o Imperador, desconheço essa ave prodígio. Não acredita ser um absurdo que eu descubra isso ao ler um livro estrangeiro?
– Eu também ignorava o fato, meu senhor. Mas vou descobrir.
– Resolva isso hoje mesmo. Ainda nesta noite quero que o rouxinol cante somente para mim.
O primeiro-ministro iniciou as buscas. Interrogou príncipes e nobres, guardas e cavaleiros. Ninguém sabia da existência de tal ave. Sem nada descobrir, o primeiro-ministro voltou ao imperador:
– Meu senhor, não conseguimos encontrar o rouxinol. Talvez não exista, talvez seja apenas invenção do autor do livro.
O imperador estava furioso, não queria desculpas. Exigiu que naquele mesmo dia lhe fosse entregue o pássaro ou o ministro sofreria sérias consequências.
O ministro recomeçou a percorrer ruas e praças, perguntando ao povo sobre o tal pássaro.
Por fim, encontrou na cozinha imperial, uma serviçal que falou:
– Conheço o rouxinol sim. Às vezes, à noite, quando volto para casa, paro no bosque para ouvir seu canto maravilhoso. Ele tem uma voz tão bela e harmoniosa, que chego a chorar de emoção.
– Pode me ajudar a encontrá-lo?
– Sim, senhor!
Imediatamente, ele mandou organizar uma comitiva de cavaleiros e cortesãos para, sob orientação da mulher, ir procurar o rouxinol na mata.
Estavam andando já há algum tempo, quando se ouviu um mugido. Os cavaleiros pararam, curiosos.
– Deve ser o rouxinol cantando. Que voz agradável!
– Esse foi o mugido de uma vaca — falou a mulher rindo.
Após longa caminhada, a mulher parou em frente a uma árvore e mostrou uma ave minúscula, de plumas acastanhadas, que saltitava entre os galhos.
– Ali está, aquele é o rouxinol, o pássaro de canto comovente.
O primeiro-ministro ficou desapontado com o aspecto modesto do pássaro. Porém, quando escutaram sua voz, todos ficaram encantados. Pegaram a pequena ave e a levaram ao palácio.
Fizeram grandes preparativos para a chegada do rouxinol, colocaram flores por toda parte e uma gaiola toda de ouro no meio da sala do trono para o pequeno e ilustre cantor.
Sentado no trono, o imperador aguardava impaciente o momento em que escutaria as comentadas melodias.
Assim que chegou, o rouxinol pousou sobre a gaiola, olhou com respeito o imperador da China e começou a cantar. Seu canto era tão comovente que o imperador chorou, emocionado. Terminado o concerto, ele disse:
– Este rouxinol ficará comigo para sempre, para minha felicidade. Em troca, terá tudo que o que precisar, tudo que mais lhe agradar!
E assim, o rouxinol ficou no palácio, abrigado na gaiola de ouro pendurada nos aposentos do imperador.
Ele cantava frequentemente para seu amo e uma vez por dia dava um passeio no jardim, mas preso pela patinha por um fio de seda conduzido pelo primeiro-ministro.
Um dia, o imperador da China recebeu um presente de seu amigo, o imperador do Japão, um maravilhoso rouxinol, mas este era mecânico, todo de ouro. Suas asas eram enfeitadas com diamantes, a cauda exibia safiras e os olhos de rubis.
Bastava girar uma pequena chave, e o rouxinol mecânico cantava uma linda melodia.
O rouxinol verdadeiro cantava com o coração e o outro, com molas e cilindros de aço. As duas vozes não combinavam e o imperador se aborreceu:
– Que o rouxinol mecânico cante sozinho! — ordenou.
Dezenas de vezes seguidas o belo brinquedo repetiu a mesma melodia sem mudar uma nota sequer, entre aplausos e elogios da corte que o ouvia.
Aproveitando-se do descuido geral, o rouxinol verdadeiro, voou pela janela aberta em direção à mata, onde sempre vivera em total liberdade.
Porém, o imperador não ficou triste, pois afinal estava satisfeito com o rouxinol mecânico.
Para que todos os súditos admirassem seu rouxinol, permitiu um espetáculo público. Muitos se deslumbraram.
Mas quem já ouvira a voz do rouxinol verdadeiro, na mata, não se convenceu. Todos sabiam que havia uma enorme diferença entre eles.
O imperador não se importava com a opinião dos outros e a cada dia que passava, ficava mais animado com aquele extraordinário brinquedo. O aparelhinho repousava em uma almofada de seda, ao lado da cama do soberano, que a cada momento lhe dava corda, contente com aquele canto sempre igual.
Certa noite, o delicado mecanismo se rompeu, produzindo um ruído estranho. O imperador mandou chamar um experiente relojoeiro, que encontrou uma mola quebrada e trocou-a.
Porém avisou ao imperador que o mecanismo já estava bem gasto e que o rouxinol mecânico só poderia cantar uma vez por ano, para evitar que quebrasse definitivamente.
O imperador ficou muito triste com isso, mas foi obrigado a seguir o conselho do relojoeiro.
Passaram-se os anos, e um dia o imperador adoeceu gravemente. Ele repousava entre seus lençóis de cetim e as cobertas de seda bordadas, mas, apesar de tanto luxo, estava só.
Nobres e ministros discutiam a sucessão ao trono, médicos pesquisavam novos remédios para receitar ao ilustre soberano. Mas ele continuava sozinho.
Em certo momento, muito doente, o imperador abriu os olhos e viu a Morte sentada a seu lado, em seu assustador manto negro, encarando-o silenciosamente.
Ele entendeu que chegara o momento e então se virou para o rouxinol mecânico e sussurrou:
– Cante! Cante, quero escutar sua voz mais uma vez, antes de morrer.
O rouxinol permaneceu calado. Não havia ninguém que lhe desse corda.
De repente, uma melodia muito doce ressoou nos aposentos. No parapeito da janela, estava o rouxinol verdadeiro. O passarinho soubera da morte inevitável do imperador e viera trazer-lhe seu consolo musical, ainda que sem ouro, brilhantes, safiras e rubis.
A Morte também se pôs a escutar aquele doce canto e, a música se espalhou pelo amplo aposento e, a cada nota, o imperador se sentia melhor. Enquanto isso, Morte foi se afastando devagar.
No dia seguinte, ao despertar, o imperador se sentia bem e se levantou. O rouxinol ainda estava no parapeito da janela.
– Meu salvador! Fui ingrato com você, ao preferir o rouxinol mecânico. Mas agora pretendo me desculpar. Vou destruir aquele brinquedo, só te peço que nunca mais me abandone – falou o imperador.
O rouxinol gostava de cantar para o imperador e estava feliz de o ter ajudado, mas ele não queria ficar enjaulado novamente. Ele deu um pulo e voou para longe.
O imperador entendeu que a gaiola de ouro não era lugar para aquele pequeno prodígio.
Muitas vezes depois deste dia o rouxinol apareceu para cantar para o imperador, mas sempre voltava para sua mata, para viver livre e feliz.
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