Fábula do Zaire

Kansisi é um pássaro branco com as asas negras e faz o ninho nos bananais em redor das aldeias. Testemunha a vida quotidiana das pessoas e sabe muita coisa sobre o comportamento dos homens.

Por isso, um dia, o seu amigo Monkonia, pássaro que frequenta pouco estes sítios, veio colocar-lhe um problema que há muito o apoquentava:

— Por que é que os homens fazem a guerra?

Kansisi deu uma gargalhada. Mas o amigo voltou a insistir:

— Os homens dizem que são inteligentes e racionais; como é que não conseguem, então, estar de acordo? Não há ninguém que cometa tantas asneiras como eles.

— Por diversos motivos — respondeu Kansisi. — A avidez, a inveja e a vingança os levam a pegar em armas uns contra os outros. Guerreiam-se até por coisas banais, sem pensar nas consequências. Anda comigo, que eu te mostro um exemplo concreto.

Voaram juntos até a aldeia vizinha. Monkonia poisou numa folha de bananeira, de onde podia observar tudo o que acontecia.

Era meio-dia, e o sol queimava. A aldeia estava deserta, parecia adormecida. Só uma criança pequena brincava no meio do pó, junto de alguns potes de barro ainda frescos, a secar ao sol antes de serem cozidos no forno.

Kansisi pousou num desses potes. A criança viu-o e correu para o espantar com um pau. O pássaro voou para mais longe e a criança acabou por bater no pote, que rolou no chão. Ao ouvir o barulho, a dona dos potes saiu e deu duas valentes chapadas na criança. Ouvindo a criança a chorar, a mãe agarrou num ramo de árvore e deu com ele na mulher, que gritou por socorro. O marido dela saiu de casa com uma faca e a mãe da criança fugiu chamando pelo marido. Ouvindo esta barulheira toda, mais homens e mulheres saíram de casa gritando e brandindo bastões, sachos e facas. Voavam insultos e ameaças de todos os lados. Dez minutos mais tarde, a aldeia estava em pé de guerra: o clã da dona dos potes contra o clã da outra mulher. Ninguém fazia ideia do motivo que causara esta situação e nem queria saber nem pensar nas consequências do conflito. A briga durou o tempo suficiente para provocar danos irreparáveis.

— Aí tens! — disse ao amigo. — É assim que nascem as guerras entre os homens. A conclusão podes tirá-la tu mesmo!

Ela está bem expressa em dois provérbios dos Lega:

O pássaro Kansisi provoca a guerra, mas fica em paz pousado na sua folha. O estulto (insensato) entra na rixa sem medir as causas nem os efeitos.

Fonte: Site Histórias em Português

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Maria Cecilia

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