História de Brian Wildsmith
Era uma vez um Pica-Pau que vivia numa floresta longínqua. Ele dormia toda a noite na sua árvore e, mal amanhecia, começava a bicar.
Certo dia, uma Coruja começou a morar na árvore do lado. A nova vizinha trabalhava toda a noite, e mal o sol raiava, ia dormir.
O Pica-Pau bicava com tanta força e fazia tanto barulho que a Coruja não conseguia dormir. Um dia, ela resolveu protestar:
— Ei, vizinho! — gritou, zangada. — Não consigo dormir com tanto barulho!
— Lamento muito, mas esta árvore é minha, e posso bicá-la quando e quanto quiser — retorquiu o Pica-Pau.
Coruja ficou de tal forma zangada que os seus gritos ecoaram por toda a floresta, e atraíram animais de muito longe.
— Pode continuar a bicar, Senhor Pica-Pau — guinchou o Rato, quando se inteirou do que se passava. — A Coruja está sempre a dar ordens e a tentar caçar-nos!
— Eu cá acho que o Pica-Pau deve parar de bicar e deixar a Coruja dormir — rugiu o Urso. — Precisamos de ter paz na floresta.
Profundamente irritada, a Coruja lançou-se sobre os animais reunidos sob a árvore, que fugiram para se esconder nos buracos mais próximos.
— Você é uma TIRANA! — gritaram, quando se sentiram a salvo.
— O que posso fazer para parar com aquele barulho? — perguntou a Coruja aos animais mais velhos.
— Não fazemos a menor ideia! Afinal de contas, você é o animal inteligente e sábio. Talvez possa mudar de árvore.
— E POR QUE HAVERIA EU DE MUDAR DE ÁRVORE? — irritou-se a Coruja. — Eu gosto de viver nesta árvore! Quem deve mudar de casa é o Pica-Pau.
Contudo, o Pica-Pau não estava com ideia de sair dali, continuou a bicar alegremente a sua árvore, dia após dia. E, dia após dia, a Coruja foi ficando cada vez mais cansada e mais mal-humorada, porque não conseguia dormir.
Aliás, ficou de tal forma desagradável que os animais decidiram que tinham de fazer qualquer coisa.
Então, marcaram uma reunião.
— Temos de tomar medidas — disse o Texugo. — Como o Pica-Pau foi o primeiro a ocupar a árvore, é a Coruja que tem de sair.
— Mas ela diz que nunca abandonará a sua árvore — replicou a Rena.
— Se derrubarmos a árvore, ela acabará indo embora… — insinuou a Raposa, matreira.
Naquela noite, enquanto a Coruja estava caçando, os animais tentaram derrubar a árvore. Mas, por mais que a empurrassem e puxassem, a árvore não se mexia.
Assim sendo, desistiram de tentar e foram para suas casas.
Algum tempo depois, dois Castores chegaram à floresta.
Gostaram da árvore da Coruja e começaram a roer o tronco, que foi ficando cada vez mais frágil.
Uns dias mais tarde, uma tempestade sacudiu a floresta. O vento rugia tanto que o Pica-Pau teve de parar de bicar. A Coruja pôde, finalmente, dormir.
A árvore da Coruja começou a estalar e ameaçava tombar. Mas, apesar de o vento ser cada vez mais forte, a ave continuava a dormir profundamente. Até que a árvore começou a oscilar perigosamente.
O Pica-Pau enfrentou corajosamente a tempestade, e começou a bicar furiosamente junto do ouvido da vizinha.
A Coruja abriu os olhos, furiosa, mas rapidamente percebeu por que razão o pássaro estava a bicar a sua árvore. No preciso instante em que a árvore começava a tombar, conseguiram voar juntos em direção a um lugar seguro.
Depois de a tempestade passar, a Coruja agradeceu ao Pica-Pau por ter lhe salvado a vida, e confessou que se sentia contente por tê-lo como vizinho.
Tornaram-se bons amigos, e o Pica-Pau ajudou a Coruja a encontrar uma árvore numa parte mais calma da floresta, onde ela podia dormir o dia todo sem ouvir o seu bicar barulhento.
A paz e a calma regressaram à floresta, e os dois pássaros ficaram amigos para o resto das suas vidas.
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