História de Ítalo Calvino
Era uma vez um rei que tinha uma filha. A mãe da menina havia morrido e a madrasta sentia muito ciúmes da enteada, vivia tentando fazer o pai ficar contra a filha.
A princesa vivia apreensiva e tentava de todas as maneiras não incomodar a madrasta, mas não teve jeito, a madrasta tanto falou que o Rei acabou concordando em mandar a filha para viver em outro lugar.
O pai mandou preparar um castelo no bosque para a filha morar e para lá enviou vários servos e damas da corte para fazerem companhia a ela.
A princesa recebeu um aposento bem montado e era bem tratada, mas tinha uma condição imposta pela madrasta: ela não poderia sair de seu quarto.
Contudo, a princesa, sempre sozinha naquele aposento, passava os dias tristemente debruçada na janela em uma almofada para não machucar os braços. A janela dava para o bosque e a princesa, durante o dia inteiro, só via o alto das árvores, as nuvens e a trilha dos caçadores.
Por ali passou um dia, um príncipe de outro reino. Ele perseguia um javali e passando perto daquele castelo, que sabia estar desabitado havia muito tempo, admirou-se ao ver sinais de vida, com panos estendidos, fumaça nas chaminés, vidraças abertas.
Observava tudo, quando viu, na janela de cima, uma bela moça debruçada, e sorriu para ela. A moça também viu o príncipe, vestido de amarelo e com polainas de caçador e espingarda, que olhava para cima e sorria para ela, ela também sorriu para ele.
No dia seguinte, o príncipe, com a desculpa de ir caçar, estava lá de novo, e ficaram se olhando por mais tempo, sorrindo e fazendo gestos.
No terceiro dia, o príncipe chegou a lhe mandar um beijo na ponta dos dedos. No quarto dia, estava lá como sempre, quando, de trás de uma árvore, apareceu uma fada que falou:
– Onde é que já se viu dois namorados ficarem tão distantes!
– Se soubesse como fazer para alcançá-la! — disse o príncipe.
– Acho os dois simpáticos, vou ajudá-los — disse a fada.
Então a fada foi até o castelo e deu às damas de companhia um livro para que fosse entregue à princesa, dizendo ser uma entrega do rei.
No começo do livro estava escrito: “Este é um livro mágico. Se virar as páginas no sentido certo, o homem se transforma em pássaro e, se virar as páginas ao contrário, o pássaro se transforma de novo em homem”.
A moça correu até a janela, pousou o livro no balcão e começou a virar as páginas às pressas enquanto observava o jovem vestido de amarelo em pé no meio da trilha. De repente, o príncipe se transformou num lindo canário amarelo, que levantou voo e veio se sentar na almofada do batente da janela.
Ela folheou o livro de novo, no sentido contrário e o pássaro virou príncipe novamente.
Deste dia em diante o príncipe visitava a princesa todos os dias, e a cada dia estavam mais apaixonados.
Um dia, a rainha malvada foi visitar a enteada.
A rainha abriu a janela, olhou para fora e, na trilha lá embaixo, viu o príncipe vestido de amarelo que se aproximava com seus cães. Ela ficou intrigada com aquilo.
Antes de ir embora pediu que os serviçais ficassem atentos ao príncipe que estava rondando o castelo.
Os empregados começaram a vigiar os dois e rapidamente descobriram o segredo deles.
Na visita seguinte a rainha colocou vários alfinetes na almofada da janela da princesa sem que ela percebesse e foi embora, já esperando fazer mal ao pobre príncipe.
Quando a rainha foi embora a moça virou rápido as páginas do livro, o príncipe se transformou em canário, voou até a janela e lançou-se como uma flecha sobre a almofada. Imediatamente se ouviu um agudo grito de dor. As penas amarelas haviam se tingido de sangue, o canário enfiara os alfinetes no peito. O pássaro se ergueu batendo desesperadamente as asas e mergulhou, pousando no chão com as asas abertas.
Assustada, sem perceber o que acontecera exatamente, a princesa virou depressa as folhas ao contrário, esperando que, se lhe devolvesse a forma humana, os ferimentos desapareceriam. Porém, o príncipe ressurgiu jorrando sangue de profundas feridas que lhe dilaceravam o peito. A roupa amarela se tornara vermelha e assim, o moço jazia de bruços.
O barulho atraiu os cachorros e os companheiros de caçada do príncipe que o socorreram e o levaram ao seu castelo.
O rei, pai do príncipe, prometeu tesouros a quem soubesse como curá-lo, mas nenhum dos que se apresentaram conseguiu salvá-lo.
Entretanto, a princesa se consumia por não poder chegar perto do amado.
Um dia, desesperada de preocupação com o príncipe, a princesa amarrou vários lençóis, fazendo uma corda, escapou da torre do castelo e saiu andando pela trilha dos caçadores.
Como estava muito escuro e não podia enxergar nada, resolveu parar e esperar amanhecer. Ela encontrou um tronco de árvore oco e entrou nele para aguardar a aurora.
Quando começou a pegar no sono a princesa ouviu uma conversa, espiou e viu quatro bruxas fazendo uma reunião ali perto, ele resolveu se aproximar um pouco para ouvir.
Elas acenderam uma fogueira junto a uma árvore e se sentaram para se aquecer e assar alguns morceguinhos para o jantar. Estavam conversando sobre diversos assuntos quando uma delas falou:
— Vi que o rei daqui de perto tem o filho doente e ninguém sabe a cura, mas eu sei.
— E qual é? — perguntaram as outras bruxas.
— É muito simples, é só passar um unguento de casca de carvalho com pó de raiz seca e o fio de cabelo de uma princesa.
A princesa estava para dar um grito de alegria, mas conseguiu ficar quieta. As bruxas já tinham dito tudo o que tinham para se dizer e tomaram cada uma o seu caminho. Já estava amanhecendo e a princesa pôs-se a andar em direção ao castelo.
Na vila que ficava ao lado do castelo, conseguiu todos os ingredientes para o unguento, mas teve que vender o seu colar para comprar tudo. Ela preparou o remédio e foi para o castelo.
Lá ela se apresentou e disse que tinha o remédio para curar o príncipe.
Várias pessoas já haviam tentado, sem sucesso.
Ela entrou no castelo e foi levada até o príncipe que estava delirando de febre em sua cama.
Quando chegou à cabeceira do amado, que gemia inconsciente em sua cama, a princesa queria explodir em lágrimas e cobri-lo de beijos, mas se conteve. Pegou o unguento e começou a esfregar as feridas do príncipe, bastava passar a mão cheia do remédio em cima da ferida que esta desaparecia.
Toda contente, chamou o rei e ele viu o filho sem feridas, com o rosto cheio de cores, dormindo tranquilo.
– Peça o que quiser, todas as riquezas do tesouro do Estado são para você – disse o rei.
– Não quero dinheiro, quero somente me casar com ele – falou a princesa.
– Mas isso não é possível, ele só poderá se casar com uma princesa.
– Sou uma princesa!
Nesta hora o príncipe acordou e reconheceu sua amada. Em poucos dias eles se casaram, a princesa nunca mais voltou para perto de sua madrasta e eles foram felizes para sempre.
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Todas as noites venho aqui pra ler para minha filha Cecília de 5 anos. Muito obrigada por postar!
Minha xará!!!! Que legal!!! Fico feliz que estejam gostando. 😉
Olá! Tudo bem?!
Em primeiro lugar, parabéns!
Li algumas histórias e são lindas, emocionantes e cativantes!
Em segundo.lugar, gostaria de lhe fazer uma proposta interrssante que a meu ver voce irá gostar.
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Abçs, Ângela Ribeiro.
Pingback: A casa dos mil espelhos – Histórias que minha avó contava
Eu amooo essas histórias maiores. Minha filha pede todas as noites. Gratidão por tanta história legal que nunca ouvimos falar.
Olá Tamires, que legal! Todos os dias pesquiso e leio diversas histórias para colocar as melhores aqui. Fico feliz que esteja gostando!
Adoramos esta história é mais legal que a da rapunzel!
Eu e meu filho Lucca, sempre amamos todas as histórias. Conto de noite para ele dormir.
Que legal Kézia, fico feliz em saber!
Muito legal essa história.
Sempre leio histórias da pág para minha filha de 6 anos, ela fica muito animada com as histórias. 💕
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Todos os dias venho aqui para ler histórias para o Lucca. Já lemos todas, várias delas mais de uma vez. Obrigado!!
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