Os três cães

História de Figueiredo Pimentel

Era uma vez um velho pastor, viúvo com dois filhos, um rapaz, chamado Henrique e uma moça, chamada Clara. O homem era pobre e só tinha de valor, uma velha choupana e três ovelhas.

Antes de morrer, ele pediu aos filhos que quando partisse, dividissem seus bens entre os dois de acordo com o que achassem melhor, sem brigas ou discussões.

Quando o pai morreu, o irmão perguntou à irmã:

– O que prefere? A choupana ou as ovelhas?

– Prefiro a choupana – respondeu a irmã.

– Dessa forma eu pegarei as ovelhas e partirei com elas, assim que encontrar um bom pagador vou vendê-las e partir pelo mundo para buscar a minha sorte.

E assim Henrique partiu levando consigo as três ovelhas.

Depois de caminhar por um tempo encontrou um velho que vinha pela estrada com três cães muito grandes.

Quando se cruzaram na estrada o velho se aproximou do rapaz e falou:

– Quer trocar suas ovelhas pelos meus cachorros?

– De que me adianta essa troca? Em primeiro lugar as ovelhas não me dão despesas, onde parar elas se alimentarão das gramas e folhagens, elas ainda dão lã e leite. Na verdade, quero vendê-las para ter dinheiro para sair pelo mundo.

– Mas esses cães são especiais, eles cuidam de si mesmos e não precisa alimentá-los, e não é só isso, cada um deles tem um dom, de acordo com seus nomes. Eles são o Provedor, o Destroçador e o Quebra-ferro. Se quer sair pelo mundo, eles são os melhores companheiros que você poderá ter.

O rapaz pensou, resolveu arriscar e fazer a troca.

Depois de muito caminhar, começou a anoitecer e ele teve fome, então falou ao cão Provedor:

– Provedor, tenho fome!

O cão saiu correndo e depois de meia hora voltou com uma cesta cheia de coisas deliciosas para comer. O rapaz ficou impressionado com a habilidade do cão e feliz por ter feito a troca.

Depois, estendeu uma esteira na beira da estrada, embaixo de uma árvore e lá, junto com os cães, passou a noite.

No dia seguinte, ao amanhecer, acordou com o barulho de uma carruagem muito sofisticada que vinha pelo caminho. Quando a carruagem chegou perto, ele pode ver em seu interior uma moça vestida de preto que chorava copiosamente.

Henrique chamou o cocheiro e disse:

– O que aconteceu com a pobre moça? Para onde estão indo?

– Você não sabe do dragão? Há um dragão que há três anos atacava o reino, porém o rei fez um acordo com o monstro e todos os anos ele deve entregar a ele uma de suas filhas, em troca ele não atacará o reino. Neste ano a oferenda ao dragão será essa filha, por isso ela chora.

O rapaz ficou impressionado com a história e resolveu seguir com a carruagem e seus cães para ver o bicho.

Quando chegaram à montanha em que o dragão morava, o rapaz chamou um dos seus cães e falou:

– Destroçador, destrua aquele dragão!

O cão, mesmo sendo pequeno em comparação com o dragão não teve medo e o atacou. A luta foi sangrenta e no final o cão saiu vencedor. Depois de ver o dragão morto, Henrique arrancou um dente do dragão e o guardou em seu bolso.

A princesa não se aguentava de alegria por estar livre de ser entregue para ser devorada pelo dragão e falou para Henrique:

– Venha comigo para meu castelo, tenho certeza de que meu pai irá lhe recompensar pelo bem que fez a mim e ao reino.

– Eu agradeço o convite, mas estou em uma viagem pelo mundo, em um ano eu retornarei e então irei ao seu castelo.

Eles se despediram, Henrique partiu com os cães e o cocheiro com a princesa de volta ao castelo.

Porém, o cocheiro não era uma boa pessoa, no meio do caminho ele ameaçou a princesa para que ela dissesse ao rei que ele havia matado o dragão. O cocheiro queria receber as honras por ter matado o dragão e disse a ela que se não mentisse a mataria ali mesmo.

A moça, apavorada com a ameaça, aceitou a sua proposta, não imaginando que as coisas iriam piorar para o seu lado.

Chegando ao castelo, o cocheiro contou ao rei a mentira e a princesa, acuada, confirmou.

O rei ficou muito feliz e presenteou o cocheiro com ouro e muitas honras. Mas, então o cocheiro falou:

– Como prêmio pelo meu feito quero lhe pedir mais uma coisa.

– Diga, lhe darei o que pedir – disse o rei.

– Quero a mão de sua filha em casamento.

– Mas é claro, considere-se meu genro.

A princesa, ao ouvir a conversa, ficou pálida, nunca imaginou que o cocheiro teria a coragem de pedir a sua mão em casamento.

Depois e muito chorar e pedir, a moça convenceu seu pai a realizar o casamento somente depois de um ano. Ela tinha a esperança de que até lá Henrique tivesse voltado.

Um ano se passou e o rapaz estava a caminho do castelo quando viu os preparativos de uma grande festa. Perguntou aos moradores o que estava acontecendo.

Quando ficou sabendo da mentira do cocheiro e sobre o casamento, ficou revoltado e começou a gritar a verdade pelas ruas, dizendo ser o herói que a cidade deveria homenagear.

Os guardas reais, vendo o tumulto que ele estava fazendo avisaram o genro do rei que mandou prendê-lo.

Preso nos calabouços Henrique gritou ao seu cão:

– Quebra-Ferro, me salve!

O cão invadiu os calabouços quebrando todas as grades e libertou o rapaz, que foi até o rei e contou a verdade. A princesa confirmou e como prova, Henrique entregou ao rei o dente do dragão.

A princesa foi salva de ter que se casar com um mentiroso impostor e Henrique recebeu todas as horarias devidas pelo seu feito.

Henrique recebeu como agradecimento muito ouro e joias preciosas. Ele não se esqueceu da sua irmã que vivia na choupana e deu a ela um lindo palacete. 

Depois ele saiu pelo mundo para conhecer mais lugares e viver mais aventuras.

***

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15 comentários em “Os três cães”

  1. Pingback: O lobo de Gubbio – Histórias que minha avó contava

  2. Meu pai contava esta história, um pouco diferente, o dragão era um monstro e os cães chamavam “Rompi ferro”, “Quebra-ferro” e Dragão (tínhamos até um cãozinho com este nome, por conta da história). E o dono das ovelhas, que trocou pelos cães, chamava-se Juvenal. Mas no geral, é muitíssimo parecida. Ele aprendeu com o avô. Meu pai, nasceu em 1932, provavelmente, o avô no final do século XIX.

      1. Solange Ramos Cardoso.

        Também ouvia vovô contar a história e quando estávamos longe do vovô pediamos para mamãe contar…linda. Era um pouquinho diferente mas os cães era o mesmo nome. O rapaz era Joãozinho que se casa com a princesa…

  3. Meu pai contava esta história, um pouco diferente, o dragão era um monstro e os cães chamavam “Rompe ferro”, “Quebra-ferro” e “Dragão” (tínhamos até um cãozinho com este nome, por conta da história). E o dono das ovelhas, que trocou pelos cães, chamava-se Juvenal. Mas no geral, é muitíssimo parecida. Ele aprendeu com o avô. Meu pai, nasceu em 1932, provavelmente, o avô no final do século XIX. Histórias de tradição oral são assim, há alguns detalhes diferentes, mas sempre há um imaginário precioso guardado, que guarda um tesouro ancestral.

  4. Meu pai contava essa história, ele era de 1920.

    Estou com quase 73 e lembro com muita saudade. “Rompe ferro, rompe nuvem, corta vento e valoroso, do meu pão não comerás, do meu vinho não beberas e nem me verás mais” esse era o refrão da história.

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