A rã sábia

Fábula de Monteiro Lobato

A onça estava para se casar e os animais todos estavam aos pulos e radiantes com a festa prometida. Somente a rã torcia o nariz para o acontecimento.

O marreco que observou a cara da rã lhe disse:

– Que grande enjoada! Que cara feia é essa, enquanto todos nós nos alegramos de pensar no festão?

– Por um motivo muito simples – respondeu a rã – Porque nós, rãs, como vivemos quietas, a filosofar, sabemos muito da vida e enxergamos mais longe que vocês. Responde-me esta pergunta: E se o sol resolvesse se casar e em vez de torrar a terra sozinho tivesse ainda a ajuda da Dona Sol e seus filhotes? Que aconteceria?

– Secariam todas as águas! – respondeu o marreco.

– Isto mesmo, secariam todas as águas e nós, rãs e peixes estaríamos na pior. Pois calamidade semelhante vai cair sobre vocês. A onça se casa e já de início serão ela e o marido a perseguir todos vocês, depois aparecerão as oncinhas e terão de se aguentar com a fome de toda a família. Se o apetite de uma já nos faz tanto mal, quanto mais de três, quatro ou cinco?

O marreco refletiu e concordou.

– É isso mesmo…

Conselho de vó: pior que um inimigo, só mesmo dois, pior que dois, são três.

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