Folclore brasileiro
Era uma vez um pescador muito destemido chamado José, que lutava com as maiores dificuldades no mar para viver.
Ele vivia sozinho e já fazia um tempo que o mar não estava dando tanto peixe quanto antes, ele estava passando muitas dificuldades.
Certo dia, em uma noite de lua cheia, resolveu passar a noite pescando para ver se pegava algum peixe. Já estava há horas jogando a rede, mas ela voltava sempre vazia.
De repente, o luar começou a ficar cada vez mais claro, o frio e a neblina tomaram conta do lugar. De longe ele começou a ouvir o canto de uma mulher.
Ele foi se aproximando das pedras quando viu a mulher que cantava, ela estava dentro da água, somente com a cabeça para fora. A mulher era linda como um anjo, tinha os cabelos negros, lisos e compridos.
José ficou assustado com o que via e começou a pensar se era mesmo uma mulher ou uma assombração e resolveu perguntar:
– Você é alma penada ou é mulher de verdade?
A moça riu e respondeu:
– Sou a Mãe D’água!!! Nunca me fizeram uma pergunta como essa. Por que está pescando numa hora dessas?
– Não encontro peixe, resolvi ficar mais tempo no mar para ver se pego alguma coisa.
– Quer que eu te ajude?
– Quero!
– Jogue a rede do outro lado destas pedras.
O rapaz fez o que ela falou e para sua surpresa encheu o barco de peixes.
No dia seguinte ele foi no mesmo horário, no mesmo lugar para ver se a encontrava, mas ela não estava lá. Por vários dias ele tentou encontrá-la, mas foi em vão.
Ele não parava de pensar nela, tinha ficado apaixonado e a cada dia foi ficando mais entristecido por não encontrar a Mãe D’água.
No mês seguinte ele estava pescando no mesmo horário com esperança de encontrar a moça quando, de repente, levou um susto, ela colocou a mão em seu barco e chamou por ele:
– José!
– Você voltou!!!
– Sim, eu sempre venho aqui na lua cheia!
– Ah! Eu vim aqui todas as noites te procurar.
– Mas por que me procurava?
– Quer se casar comigo?
A Mãe D’água sorriu e respondeu:
– Quero muito!
– Venha, suba no barco!
– Não posso! Não agora. Na noite da quinta para sexta-feira, na outra lua, venha me buscar. Traga roupa para mim. Só traga roupa de cor branca. Não pode ter alfinete, agulha ou coisa alguma que seja de ferro.
Na noite combinada o pescador compareceu ao lugar, trazendo a roupa branca. Antes de o galo cantar, a Mãe D’água saiu do mar. Ela se vestiu e eles foram para a casa dele. No dia seguinte casaram na capelinha da vila.
Depois do casamento, a vida de José começou a melhorar muito, ele era o pescador que mais pescava e começaram a viver com fartura. Tudo o que fazia dava certo e ele começou a ganhar muito dinheiro.
Porém, toda noite de lua cheia, a Mãe D’água sentava-se nas pedras da praia e ficava olhando o mar, chorando.
José sabia por que ela chorava e se entristecia em saber que ela sentia tanta falta de viver no mar.
Com o tempo, a tristeza dela não era só na lua cheia, mas em todos os dias, apesar de todos os esforços do rapaz em fazê-la feliz.
Um dia, sem saber o que fazer com a tristeza da esposa, José tomou coragem e falou:
– Quero que você vá embora, não te faço feliz como o mar fazia, está ficando doente e vai morrer se continuar aqui.
Mãe D’agua chorou porque o amava, mas sabia que ele estava certo.
Ela foi embora naquela noite e desde então em toda noite de lua cheia eles se encontram nas pedras e nadam juntos para matar a saudade.
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